sábado, 8 de agosto de 2009

Gripe Porcina é semelhante à pandemia de 1918 ou isso é somente marketing dos laboratórios, como alguns afirmam?

Escuto e leio em várias partes deste universo real e virtual que, tudo isso não passa de uma grande campanha dos laboratórios (principalmente da Roche, proprietária do, agora famoso, TAMIFLU). Que não adianta nada fechar as escolas, mas tarde vão quere fechar o país. Escuto também que a gripe comum ceifa, por ano, muito mais vidas do que essa nova gripe e ninguém faz nada a respeito.

O dia todo é patati, patatá e pataculá. Pitaco de todos os cantos, cores e sabores.

Pode até ser, mas li recentemente um artigo que falava sobre os aspectos da evolução humana. Era um texto sobre o mal que acomete grande parte da população mundial (senão 99,99%) chamado, romanticamente, de ansiedade. Nosso estresse de cada dia (como se isso não fosse um estado permanente, já que é uma continuação ansiosa do dia ansioso anterior e uma preparação ansiosa para o dia ansioso posterior). O importante desse artigo (infelizmente não me lembro onde li) foi mostrar que esta característica já está incorporada ao nosso DNA e que somos herdeiros da ansiedade de nossos antepassados, porém, só se herda alguma coisa de quem teve tempo de transmiti-la, pois os “não” ansiosos, calmos, tranqüilos e despreocupados, morreram e levaram consigo seus genes. (Agora fiquei mais ansioso. O Word me avisou que este texto tem 55 palavras e deveria ter somente 50 – De raiva, já enfiei mais um montão. Toma Word!)

Bom, minha avó dizia, “Mel e um chazinho não faz mal a ninguém e, se você não tomar vai acabar ficando doente”. Meu pai dizia, “mais vale dois na mão do que não ter mão para segurar. Epa! Não estou sentindo mais meus dedos”. Minha mãe ainda diz, “Você não pode ficar tão ansioso assim (como se ela fosse a madre Tereza), isso é um resfriadinho, toma aqui, dois paracetamol, duas aspirinas, e 60 gotas de dipirona. É melhor tomar tudo para não correr o risco”. Mas eu logo falo, “e a dengue?”. Rapidamente ela emenda, “então não toma a aspirina. É até melhor, aspirina dá úlcera e depois, da úlcera vem um câncer”. Saio de lá pensando nas milhares de “aspirinas” que já tomei na vida e, ela tinha razão, imediatamente meu estomago começa a doer! Mas, eu não tinha tomado aquelas aspirinas, mas e as outras milhares? Já passo mais uma noite de insônia.

Hoje ouvi um posicionamento diferente sobre a Gripe A e, de uma pessoa que me disse que achava besteira, também, esse negócio de fechar as escolas, porém, ela me informou que existe uma lógica nisso, pois segundo os estudos, a maior incidência de gripe está nas primeiras semanas do inverno. Ponto para a ansiedade!

Discutimos também sobre a incidência de a maioria dos casos estarem entre grávidas e adultos de 20 a 50 anos. Disse ela, exatamente o que alguns pesquisadores já falaram. Como temos traços nesse vírus iguais ao da Gripe Espanhola, na faixa de idade mais alta é provável que a carga de anticorpos seja mais forte, visto que, essa pandemia se deu há 90 anos e era muito provável que os pais dessa população tenham estado em contato com o vírus, ou com uma mutação menos virulenta e, certamente, transmitiram esses anticorpos para seus filhos, que estão agora, nessa faixa de idade.

Interessante esse posicionamento! As crianças possuem uma carga maior de anticorpos, pois além dos seus, carregam também os de suas mães. Ficam assim, mais suscetíveis, os adolescentes e adultos jovens. É, pode ser! Resolvi pesquisar mais um pouco.

Revisando os trabalhos sobre a Gripe Espanhola, descobri que em janeiro de 2007, a revista Nature publicou artigo onde pesquisadores disseram ter descoberto o mecanismo do porque a pandemia, que ocorreu em 1918-1919, em algumas regiões, até 1920, matou mais adultos jovens de 20 a 40 anos. Olha aí uma semelhança com nossa Gripe Suína.

No estudo com o vírus feito em macacos, o vírus se replicou rapidamente, causando problemas respiratórios, hemorragia e morte. De acordo com a pesquisa, liderada pelo japonês Yoshihiro Kawaoka, da Universidade de Tóquio e da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, o efeito fatal se deve a uma aberração na resposta imunológica inata.

“Os animais infectados acionaram uma resposta imunológica caracterizada pela desregulagem na resposta antiviral, que se mostrou insuficiente para a proteção, indicando que respostas atípicas podem contribuir para a letalidade”, escreveram. A violenta resposta destruiu os pulmões dos animais, que morreram em questão de dias.

“O estudo prova que o vírus de 1918 era realmente diferente de todos os outros tipos de vírus da gripe conhecidos”, a resposta imunológica inata, primeira linha de defesa do organismo, é ativada em horas ou mesmo minutos após a infecção, atuando diretamente contra o vírus ou estimulando inflamações. No caso da gripe espanhola, o problema foi o excesso de estímulo, que fez com que o sistema imunológico dos indivíduos infectados trabalhasse além da conta.

Isso quer dizer que o próprio organismo agravou o processo da infecção. Houve uma resposta violenta do organismo que levou a um ataque ao próprio sistema respiratório do infectado. Com o ataque das células imunes, os pulmões se encheram de fluido e os afetados morreram como que por afogamento em seus próprios fluídos. De acordo com o estudo, essa resposta imunológica violenta e fatal explica por que a maioria dos mortos na pandemia de 1918 era de jovens adultos, justamente aqueles que possuíam um sistemas imunológicos mais robustos.

“A estimulação excessiva da resposta imunológica inata pode ser danosa. Ela pode contribuir para a virulência de patógenos, causando excessiva infiltração dos tecidos pelas células imunes, resultando em destruição”, explicou Yueh-Ming Loo e Michael Gale Jr., da Universidade do Texas, em comentário sobre o estudo de Kawaoka e colegas na mesma edição da Nature.

Ou seja, quanto mais potente for o sistema imunológico, pior é o agravamento da infecção. A faixa etária em1918 estava entre 20 e 40 anos, hoje, os índices nos mostram uma faixa de 20 a 50. Ela deve ter aumentado, provavelmente, porque o adulto de hoje possui uma capacidade de saúde e expectativa de vida maior e melhor do que no início do século.

Isso foi publicado em 2007 e hoje estamos nos deparando com características semelhantes. Se formos pesquisar a fundo veremos que existem muitas semelhanças entre o que aconteceu em 1918 e o que acontece hoje. Não adianta tentarmos manter a saúde do infectado fortalecida já que é o próprio sistema imunológico que causa os maiores danos e, quanto mais potente for o organismo, piores serão os danos.

Vocês ainda acham que não é para ficar ansioso? Acham que isso pode ser uma gripinha qualquer? É certo que nosso sistema de saúde é muito melhor hoje, que os pesquisadores possuem muito mais equipamentos, conhecimentos e meios que não existiam no passado, mas relegar tudo isso a uma mera campanha de marketing ou uma preocupação infundada? Lembre-se que a Gripe Espanhola matou de 50 a 100 milhões de pessoas. A população era muito menor e a quantidade e facilidade de contatos entre populações de países diferentes, insignificante perto da globalização atual.

Lembro-os, também, que a Gripe Espanhola veio em três ondas e, a carnificina se deu na segunda fase, durou ao todo, quase 3 anos e foi a pior tragédia de saúde da humanidade, pior ainda que a peste negra.

Ainda acha que não é para ficar ansioso. São 6h00 da matina, tive um dia pesado hoje e não pisquei um olho a noite toda mas, espero poder dizer aos meus netos (e ao meu psiquiatra também) “O seguro, morreu de velho. Bem velhinho mesmo!!!”

Abraços a todos,

Matusalem

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