segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

AS PIRÂMIDES E O MISTÉRIO DE ÓRION



As pirâmides de Gizé (Giza) têm, a milênios, estimulado a imaginação humana. Quando a Grande Pirâmide foi erguida tinha 145,75 m de altura (com o passar do tempo, perdeu 10 metros do seu cume). O ângulo de inclinação dos seus lados é de 54º54'. Sua base é um quadrado com 229 m de cada lado.  Mas, apesar desse tamanho todo, é um quadrado quase perfeito - o maior erro entre o comprimento de cada lado não passa de 0,1%, ou seja, algo em torno de somente 2 cm de diferença.  A estrutura consiste em mais de 2 milhões de blocos de pedra com blocos  pesando de duas até 20 toneladas.

Na face norte fica a entrada da pirâmide. Vários corredores e galerias levam ao que seria a câmara mortuária do rei, localizada no "coração" da estrutura. O sarcófago é de granito preto e também está orientado com as direções da bússola.  Surpreendentemente, o sarcófago é maior do que a entrada da câmara.  Só pode ter sido colocado lá enquanto a pirâmide era construída, um fato que evidencia a complexidade do projeto e como tudo foi cuidadosamente calculado.

São cálculos assombrosos.  Por exemplo, se você tomar o perímetro da pirâmide e dividi-lo por duas vezes a sua altura, chegará ao número π (pi - que é a relação entre o comprimento de uma circunferência e seu diâmetro, na geometria Euclidiana) até o décimo quinto dígito (π ≈ 3, 141592653589793).  As chances de esse fenômeno ocorrer por acaso é quase nula.  Até o século 6 d.C., o “pi” havia sido calculado só até o quarto dígito.

Mistérios? Isso é só o começo!

A Grande Pirâmide pode ser a mais velha estrutura na face do planeta. É a mais corretamente orientada, com seus lados alinhados quase exatamente para o norte, sul, leste e oeste.  É um mistério como os antigos egípcios conseguiram tamanha precisão sem utilizar uma bússola, assim com é incrível que até agora ninguém tenha aparecido com uma explicação para o enigma.

Ao que parece, todas as construções na planície de Gizé estão espetacularmente alinhadas.  No solstício de verão, quando visto da Esfinge, o Sol se põe exatamente no centro da Grande Pirâmide e de sua vizinha, a pirâmide de Quéfren.  No dia do solstício de inverno, visto da entrada da Grande Pirâmide, o Sol nasce exatamente do lado esquerdo da base da cabeça da Esfinge e passa toda a cabeça até se pôr ao lado direito de sua base.  A geometria das três pirâmides tem sido uma fonte de confusão por muitos anos por causa da maneira aparentemente imperfeita com que foram alinhadas.  É curioso, porque foram os egípcios os inventores da geometria.

 Por outro lado, a pirâmide está colocada num lugar muito especial na face da Terra. Ela está no centro exato da superfície terrestre do planeta, dividindo a massa de terra em quadrantes aproximadamente iguais.  O meridiano terrestre a 31º a leste de Greenwich e o paralelo a 30º ao norte do equador são as linhas que passam pela maior parte da superfície terrestre do globo. No lugar onde essas linhas se cruzam está a Grande Pirâmide, seus eixos norte-sul e leste-oeste alinhados com essas coordenadas. Em outras palavras, a Grande Pirâmide está no centro da superfície terrestre.  Ela é, por assim dizer, o umbigo do mundo.

Muitos arquitetos e engenheiros que estudaram a pirâmide concordam que, com toda a tecnologia de hoje, não conseguiríamos construir nada igual.  Será? Às vezes as pessoas preferem acreditar em qualquer coisa menos na capacidade do gênio humano.  Foi com essa intenção que, em 1944, um grupo de arqueólogos tentou construir uma réplica da pirâmide, sem usar a tecnologia moderna, nem mesmo a roda, mas seguindo uma escada proporcional de tamanho, tempo e número de operários, 40 vezes menor.  Isso resultaria justamente nos 10 m que faltam ao cume da Grande Pirâmide.

Cordas e varetas serviam como instrumentos para medição e demarcação do terreno, as pedras foram cortadas a cinzel nas pedreiras distantes, transportadas de barco e empurradas até o local da empreitada que ficaria  ao lado da pirâmide de Quéops.  O sistema utilizado para erguer as pedras foi uma combinação da rampa com as alavancas. Tudo como nos velhos tempos.

Para surpresa geral, as pedras foram se encaixando com precisão milimétrica e a construção progrediu, apesar dos atrasos provocados pelo desconhecimento da metodologia da época, que teve de ir sendo desvendada na base da tentativa e erro. O que frustrou o sucesso da empreitada foi o tempo.  Se a equipe dispusesse de alguns dias a mais, além dos 45 dias determinados pela construção, teriam construído uma Grande Pirâmide em escala.

Será? Como se sabe, os problemas e dificuldades são exponenciais dependendo-se do tamanho da obra, tanto quando falamos no infinitamente grande como no infinitamente pequeno. Criar um modelo em escala confortável e dizer que se pode criar algo de tamanho astronômico baseando-se nestas estimativas é besteira. Besteira e temerário, pois faz com que se acredite que uma mentira possa se tornar verdade. Acredito que os problemas nem exponenciais são, mais sim, logarítmicos. Construa uma casa com paredes de 2,70 metros de altura. Agora, construa a mesma casa com paredes de 200 metros de altura e isso, com todos os materiais em escala (tijolos, vigas, portas, janelas, telhas e telhados, etc.). Será possível?

Robert Bauval e Adrian Gilbert desenvolveram um estudo astronômico sobre as pirâmides e publicaram suas descobertas, preliminares, no livro THE ORION MYSTERY, editado pela Heinemann.  Eles também fizeram um documentário para a TV em 1995, lançando uma nova e intrigante luz sobre o assunto.

Os pontos de vista expressados no livro e no documentário foram inicialmente desprezados pelos egiptólogos acadêmicos, mas, conforme as evidências foram desvendadas e, como isso, reforçando essa idéia, mais e mais cientistas estão aceitando esses fatos.

 Embora Virgina Trimble e Alexander Badawy tenham sido os primeiros a notar que os "respiradouros" da pirâmide de Quéops apontavam para a Constelação de Órion, aparentemente com o objetivo de mirar a alma do rei morto em direção àquela constelação, Bauval foi o primeiro a notar que o alinhamento das três pirâmides era uma acurada imagem espelhada das Três Marias, como são chamadas no Brasil as estrelas Alnitak, Alnilam e Mintaka, que formam o "Cinturão de  Órion”.  A isso ele deu o nome de Teoria da Correlação, que forma a espinha dorsal de sua pesquisa.

As pirâmides há muito vêm fascinando Robert Bauval que é  um engenheiro egípcio, filho de pais belgas, nascido em Al-Iskandariyaa (Alexandria) e passou a maior parte da sua vida trabalhando no Oriente Médio.  Por muitos anos ponderou sobre o significado de Sah, a constelação de Órion e sua ligação com as pirâmides.

Bauval sabia que o aparentemente desalinhamento na disposição das três pirâmides em Gizé não era acidental.  O problema há muito ocupava sua cabeça e a de seus amigos engenheiros.  Muitos concordavam que o alinhamento, embora incomum não poderia ser um erro, dado o conhecimento matemático que os egípcios tinham.

Enquanto trabalhava numa obra da Arábia Saudita, Bauval costumava passar as noites com a família e os amigos num churrasco no deserto.  Num desses finais de noite ao redor da fogueira, um amigo engenheiro, que também era astrônomo amador, apontou para a constelação de Órion, que se levantava atrás das dunas. Ele mencionou de passagem que as estrelas que formavam o cinturão do caçador pareciam imperfeitamente alinhadas, e não formavam uma diagonal reta.  Mintaka, a estrela mais à direita, está ligeiramente fora do prumo. 

Enquanto o amigo explicava, Bauval extasiou-se, pois o alinhamento das três estrelas do cinturão correspondiam  perfeitamente ao das pirâmides de Gizé!

Inicialmente Bauval usou o programa de astonomia Skyglobe para checar o alinhamento das estrelas em 2450 a.C.  O software foi suficiente para clarear a mente de Bauval quanto ao valor da sua descoberta. 
O programa Skyglobe também pôde colocar a Via - Láctea nos mapas celestes que produz, e ao fazer isso Bauval encontrou as evidências para a sua teoria.

Gizé está a oeste do Nilo, da mesma forma que Órion está a "oeste" da Via - láctea, e na mesma proporção em que Gizé está para o Nilo.

Bauval calculou a precessão das Três Marias e descobriu que, devido à sua proximidade no espaço e à sua grande distância da Terra, há 5 mil anos as estrelas apareciam exatamente do mesmo modo como são vistas hoje.  Claro, elas mudaram em declinação, antes estavam abaixo do equador celeste, a cerca de 10 graus de declinação.

A astronomia é fundamental na Teoria da Correlação de Bauval.  Em um ciclo de 26 mil anos, o eixo do nosso planeta oscila levemente e isso leva a uma mudança aparente na posição das estrelas.  Esse fenômeno é conhecido pleno nome de precessão.  Enquanto a Terra oscila, a Estrela Polar que marca o Pólo norte celeste vai mudando.  Atualmente, a estrela Polaris marca esse ponto, mas, na época das pirâmides, no lugar dela estava Thuban, da constelação Draconis.  Dentro de dez anos, a estrela Vega, da constelação de Lira, irá ser o pólo norte celeste.

Outra mudança na posição das estrelas é provocada pela expansão do universo. As estrelas não estão paradas no espaço, elas possuem um movimento próprio.  Algumas estão se movendo em direção à Terra, enquanto outras estão se afastando. Grupos de estrelas relacionadas, como as Três Marias, em Órion, tendem a se mover juntas pelo espaço.

A mudança da posição de uma estrela está, entre outras coisas, em função de  sua  distância do local de observação.  Estrelas que estão muito longe parecem se mover bem devagar.  Este é o caso das Três Marias, distantes aproximadamente 1,4 mil anos-luz Terra.  Assim, através dos séculos, elas mudaram sua declinação, e hoje nascem e se põem em tempos diferentes, porém, mantêm sua forma característica por causa da distância.

É muito importante entender que o céu era diferente no tempo da construção das  pirâmides. A forma geral das Três Marias tem permanecido igual, embora muitas outras partes do céu tenham mudado drasticamente.  Graças aos sofisticados programas de computador, é possível projetar o céu de volta no tempo e foi isso que permitiu a Bauval verificar e construiu sua teoria.

As relações que tal descoberta implica são fascinantes.  Os egípcios eram dualistas, ou seja,  tudo em que pensavam e em que acreditavam tinha sua contraparte. Causa  e efeito, direita e esquerda, leste e oeste, morte e renascimento, etc., e  nada era visto isoladamente. Eles construíram em Gizé uma réplica exata do cinturão de Órion, o destino do Faraó, o Duat.  Longe de ser uma tumba, a pirâmide seria o ponto de  partida da jornada do rei morto de volta às estrelas de onde veio.

A egiptologia tradicional acredita que os egípcios praticavam a religião solar, centrada na adoração de Ra.  O culto a Ra, cujo centro era Heliópolis, a Cidade do Sol, era sem dúvida importante, mas parece que era um apêndice de uma religião estelar ainda mais antiga.  Toda a evidência que tem surgido sugere que Ra era meramente um dos instrumentos pelos quais o rei retornava ao tempo primordial, e não ao seu objetivo final. 

A aplicação da Astronomia ao estudo do Antigo Egito mostra que as estrelas tinham importância definitiva no destino final do rei, como se pode notar pelo texto 466 recolhido na pirâmide: "Ó Rei, és esta grande estrela, a companheira de Órion, que gira pelo céu com Órion, que navega o Duat com Osíris..."

O rei era muito importante por ser o elo entre os deuses e os homens, e era tratado com enorme respeito na vida e na morte.  Desde o momento de seu nascimento era educado e treinado para seu retorno às estrelas.  Cada aspecto da sua vida estava associado com sua jornada.  Ele aprendia as rezas e encantamentos (muitos foram colocados nos Livro dos Mortos), que lhe garantiria uma jornada segura.  Seu objetivo na vida era um retorno bem-sucedido e a pirâmide, longe de ser uma tumba ou um memorial, era um ponto de partida dessa grande jornada.

Leia: http://www.robertbauval.co.uk/

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