sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Chico ladrão!

F. B. H


Chega pelas mãos do deputado federal e historiador Chico Alencar (PSOL/RJ) uma narrativa deliciosa. E ela consta no livro “Meu irmão alemão”, de autoria do compositor e escritor Chico Buarque de Holanda. Neste texto que você vai ler adiante, de autoria do outro Chico, o parlamentar, o autor de A Banda, Construção, Meu Guri entre outros grandes sucessos da MPB, tem exposta sua prisão. Isso mesmo. E não por uma bobagem qualquer. Mas por roubo. Parece estranho? Parece. Mas ele e um outro amigo furtavam carros nos idos de 1961 como traquinagem de menino rico. Se apropriavam do automóvel para dirigir pela capital até a gasolina acabar."  (Fernando Correa)



PIVETES FURTARAM UM CARRO: PRESOS
Por Chico Alencar

“A legenda da foto estampada na edição de 29 de dezembro de 1961 do jornal Última Hora, de São Paulo, dizia: “A dupla de pivetes F. B. H. e O. J., os autores do furto do automóvel”. Foi a primeira vez que Chico Buarque apareceu na imprensa. Uma das diversões do que se chamava na época de juventude transviada era roubar carros para passear até que acabasse a gasolina. Mas naquela noite a dupla cometeu um erro. Apossou-se de um carro que já havia roubado. O veículo, desligado, desceu silenciosamente uma das ladeiras do Pacaembu. Quando os pivetes deram a partida, nada de o motor funcionar. Sem saber que o dono havia retirado uma peça chamada cachimbo, sem a qual o motor não funciona, continuaram tentando. O barulho chamou a atenção dos policiais de uma viatura que passava por ali. Os garotos foram algemados, colocados dentro do camburão, onde já começaram a apanhar, e levados a uma delegacia para que admitissem fazer parte de uma quadrilha de profissionais. Depois de mais algumas cacetadas, alguém se convenceu de que os meninos eram menores de idade. Passaram a noite no Juizado de Menores, e no dia seguinte coube à irmã Miúcha resgatar o mano delinquente. Pior que as agressões foi a pena complementar imposta pelo juiz: seis meses de absoluta reclusão noturna. Até que completasse 18 anos, Chico só poderia sair de casa durante o dia, para ir à escola. O jornalista Humberto Werneck identificou uma curiosa coincidência de datas: “Seis anos mais tarde, também num 29 de dezembro, a imprensa haveria de abrir largos espaços para relatar a entrega do título de cidadão honorário paulistano ao pivete de 1961″. As fotos – de perfil e de frente – de seu fichamento na polícia inspiraram a criação da música e integraram o mosaico do álbum Paratodos (1993), cujo projeto da capa é do próprio Chico”.


LADRÃO?

Não tente fazer um paralelo disso com o "hoje em dia". A "molecagem" acima, se deu nos inícios dos anos 60.

Isso não era roubo, era "molecagem" mesmo! E, mesmo sendo inconsequente, não passava disso. Eu, nos idos de 70, fazia a mesma coisa e, com menos idade que o F.B.H. Enquanto eles tinham, em tono de 16 e 17 anos, em 1961, eu tinha 12 em 1972,  porém, não roubava o carro dos outros como eles faziam, "roubava" o carro da minha mãe, do meu pai ou do pai de um amigo (é claro que com o amigo junto).

Cheguei a fugir diversas vezes da polícia, tanto de "fuscão", como de "brasília" (veículo, pois naquela época ninguém conseguia fugir de Brasília, aquela do Planalto Central).

Quando gritavam "Olha o Juizado", saía correndo dos "fliperamas" da cidade (as vezes pelas janelas minúsculas dos banheiros ou pelos forros de alguns locais, pois o "Juizado de Menores" era a nossa polícia ou, a polícia da nossa idade, a polícia das "traquinagens". O "Juizado" e suas temerosas "rurais" (Rural Willis), pois as "veraneios", essa a gente nem ligava, pois  eram utilizadas pelo DOPS  e esses, só iam atrás dos "assaltante de bancos" e "sequestradores" que acabariam, num futuro improvável, se tornando nossos governantes!



Mesmo nascido no meio da geração de Woodstock as únicas drogas que consumíamos eram as "cervejas" (mas coca-cola era melhor) e os "cigarros baforados", pois naquela época, ninguém sabia tragar!



Crimes? Estes estavam tão longe e tão distantes que eram impossíveis de vivenciar. Vez por outra eram notícias na TV, porém, o preto e branco não deixava a imagem tão vívida como deveria ser.

Ladrões, só existiam os "de galinha". Podia-se brincar de "polícia e ladrão" até altas horas da noite, sem perigo nenhum.

Naquela época, "comunista comia criancinha", porém, como já não éramos mais "criancinha", deixamos de ser o "menu" dos "subversivos. Na verdade, essa era a palavra em voga nos idos de 70 e poucos. Nada de comunista, socialista, esquerdista ou vermelhos, eles eram "subversivos". Nunca soube o que era um subversivo. Sabia que não eram "coisa boa", mas nunca ninguém me explicou a definição da palavra (Aquele que prega ou executa atos visando a transformação ou derrubada da ordem estabelecida; revolucionário), pois, caso contrário, eu teria que vestir a carapuça dos "subversivos", pois o que eu mais fazia era "subversão" e, tudo  isso, em uma casa de "direita".

As coisas, hoje em dia, estão mais complicadas. Lá, naqueles idos, preto era preto e gordo era gordo (não existiam "bichas", caso existissem, eram "bichas" mesmo). Eu tive amigos pretos, gordos (nenhuma bicha) e todos sobreviveram ao "buillying". Mas hoje é apologia ao politicamente incorreto! Mundo complicado esse! Todos os meus amigos pretos ou gordos (alguns preto e gordo, tudo ao mesmo tempo), eram meus amigos de verdade (e os que ainda vivem, ainda o são). Eram chamados de "preto" e de "gordo" e nunca tiveram nenhuma sincope psíquica! Os bocudos eram "sapos" e os narigudos "araras ou tucanos". A maioria ainda vive! E, muitos, mantém os mesmos apelidos.

Me lembro de um amigo que era  preto, gordo (esse eu não sabia se era bicha ou não) e adotado. Seu apelido era "filhinho" (chamado pela mamãe assim, mas entre nós, era o "filhinho" da puta! Nada a ver com as atividades da mãe do sujeito. Era somente uma forma que usávamos para identificação) e, nem por isso, ele deixou de ser o "filhinho". Nunca foi parar no "psicólogo", não virou drogado e nem bêbado. Acho que nem fumar na vida, o sujeito fumou!  É "filhinho" até hoje! Virou bicha, mas nunca se provou que isso foi por causa da sua cor, seu peso ou do apelido de "filhinho"!

Chico ladrão? Não! E ainda bem que foi preso na década de 60, se fosse hoje, Bye Bye BRAZIU!



 






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