sexta-feira, 15 de abril de 2016

A ONDA



Essa semana, algo muito estranho aconteceu comigo e me levou a repensar todo esse  momento que estamos passando e como chegamos até aqui.

Bom, eu parei de fumar e estou completando quase um ano desse (ainda difícil) feito, já que foi uma decisão racional e não, digamos, “por vontade própria” (que seja bem entendido esse posicionamento)!

Quem para de fumar engorda e eu engordei bem. Nem tanto quanto já engordei antes, em outra oportunidades, mas como desta vez eu já estava, digamos, acima do peso, estou pesando muito mais do que o “acima do peso”, anteriormente medido. Com o aumento de peso, vem a redução de suas vestimentas. A calça que não serve mais, a camisa que se tornou "capinha" de bujão de gás, as camisetas que viraram “baby look”, etc... O pior de tudo, é que você ainda acha que cabe naquilo  e, aperta daqui, alarga dali, ufa!! Um verdadeiro sufoco! Além de tudo, quem engorda acha que vai voltar ao peso anterior e acredita realmente nisso. É por isso que não compra roupas novas e usa todas aquelas que “fantasia” ainda servirem. Também, não é uma coisa muito reconfortante ir comprando logo muita roupa, pois quem para de fumar, se torna um “bebê” em crescimento, a roupa da semana passada encolhe a cada nova semana.

Infelizmente, chega o momento que nada mais no guarda-roupa lhe serve e, nessa hora, você é obrigado a usar aquilo que nunca usou, ou porque era horrível, ou porque era grande demais, ou pelas duas coisas.

É, meu dia chegou...

Esta semana olhei para o meu guarda-roupa e chorei. O que ainda servia estava lavando e o que estava limpo não servia mais, porém, o buraco negro estava ali ao lado. Após o desespero, não havia outra saída ou vestia aquilo ou não vestia nada.  A primeira opção joguei na cama, a segunda estava com umas bolinhas estranhas cheias de pelinhos, a terceira parecia que um jacaré havia abocanhado a gola da safada, mais aí, aí veio aquela que estava, literalmente, nova e do tamanho ideal. Vestimenta perfeita, caiu como uma luva (perfeita para “eu gordo” isso sim). Só tinha um problema, era “vermelha”. 

Não tem muito jeito! Fiz analogia com um Bombeiro (Bombeiro para mim, é o verdadeiro herói) e até que a camiseta escondeu minha barriguinha saliente. Mas meu sonho não demorou muito e minha mulher me jogou aquele balde de água fria.

- Vermelha?? Você vai de vermelho?
- Foi a única que, por enquanto, serviu!
- Está parecendo Petista!
- @#$%!!@#... Tchau!!

Mas ela tinha razão!  A cor vermelha ficou tão patente dos Petistas que qualquer um que hoje em dia saia de vermelho, será taxado de Petista!

Não dei bola e fui trabalhar daquele jeito mesmo. Eu já perdi toda a elegância em me vestir. Agora estou perdendo a elegância na forma de pensar (que me desculpem os petistas).

 Fui tomar café na minha padaria preferida (de óculos escuros e evitando encontrar algum conhecido) quando me deparo com uns 20 (acho que estavam entre 15 e 18, mas se é para arredondar, sempre arredondo para cima. Quando me interessa!) jovens, entorno de 19 a 22 anos de idade. Homens e mulheres com cabelos longos, pintados, raspados, de barbas, jaquetas, mochilas, etc... Entravam quase enfileirados e passaram ao lado da minha mesa. Todos eles, sem exceções, me cumprimentaram! 

Os homens, com um “Eaw, brodha!" e as meninas com os normais “ois” e “sorrizinhos”!  (Dei aula por muitos anos e nunca vi nenhuma turma de aluno cumprimentar desse jeito conhecidos, quanto mais um estranho como eu). E o melhor de tudo, somente “eu” fui o cumprimentado.

Olhei para o dono da padaria que estava encostado na parede conversando comigo e presenciou toda a cena e fiz cara de indagação, querendo dizer : - O que rola??

Ele apontou minha camiseta com o queixo. Eu já havia me esquecido que estava de camiseta vermelha. Olhei para ela e voltei o olhar para ele com mais cara de interrogação! Ele riu e saiu...

Fiquei muito pensativo!!

Como eu, um desconhecido qualquer, em uma padaria qualquer, tomando café da manhã qualquer, sou cumprimentado por uma bando de gente que não me conhece e tudo isso, somente por eu estar vestindo uma camiseta vermelha? A sensação é muito estranha. Eu conheço muita gente e sempre estou cumprimentando alguém. Mas isso que aconteceu é inédito...

Entendo agora, como é reconfortante pertencer a um grupo-grupo! 

É estranha essa sensação desse negócio de grupo-grupo! Não é como pertencer a um time de esporte ou a um grupo de amigos, uma sala de aula ou um grupo profissional. É algo muito mais profundo. 

Quando todo aquele “mundaréu” de gente que eu não conhecia me cumprimentou com sorrisos nos lábios, eu me senti quase “amado”!

É um reconforto muito grande saber que você é aceito mesmo por quem você não conhece, mas estranho... Muuinto estranho!

Talvez eu tenha começado a entender o porquê desse povo, dito “de esquerda” possuir essa identificação em comum. Eu fui identificado como alguém desta ala, mesmo não sendo da ala, mas simplesmente, porque estava portando (ou vestindo) um simbolo que me  identificava como sendo do   grupo. O interessante foi que nenhum deles estavam vestindo vermelho!

É,  realmente, estranho! Uma sensação extremamente forte que, se eu estivesse em uma situação de desemparo, fraqueza, ou qualquer situação em que necessitasse de um apoio ou “calor humano”, seria muito difícil resistir àquele grupo.

Imaginem se isso que aconteceu comigo, acontecesse com aqueles mais fracos e que necessitam, desesperadamente,  de um grupo apoiador para  se sentirem fortes, completos e amparados.

Talvez também,  eu entenda agora como é difícil você convencer alguém de que aquelas ideias propagadas por determinados grupos são mentirosas ou não são tão legais assim. Ou, que aquele grupo de pessoas inescrupulosas que se aproveitam de uma situação limite, para implementar ideais ilegítimos, estão somente tentando te corruptar.

Tanto é difícil arrancar alguém deste estado como é difícil impedir que alguém caia nas garras destas singelas manipulações. 

Ao voltar para pegar o carro, fiquei pensando nos “porquês” daquilo tudo e, imediatamente,  me lembrei da “Terceira Onda”! 

A TERCEIRA ONDA
  
Na primavera de 1967, em Palo Alto, Califórnia (EUA), um professor do ensino médio chamado Ron Jones,  recriou em uma sala de aula  o ambiente nazi fascista daquela  Alemanha pouco antes de estourar a II Guerra Mundial. 

O que era para ser apenas uma aula de história sobre o totalitarismo na Alemanha nazista e que dominou quase todos os alemães da época, completamente escrachado pelos estudantes americanos que  não conseguiam  entender ou conceber alguém, em sã consciência, adotando, apoiando ou mesmo incentivando as ideias e atitudes determinadas por aquelas idéias tirânicas, acabou virou um experimento perigosíssimo!

Os jovens americanos achavam que os alemães eram, por demais, ingênuos para aceitar uma situação como aquela que ocorreu com o regime nazista. Assim, o professor Jones acabou criando um experimento para mostrar que não é tão difícil assim fazer com que um grupo qualquer, de diversas categorias e níveis culturais diversos, possa ser incentivados a seguir novas ideias e objetivos, sem saber ao certo o que realmente é o certo e o que, realmente,  é o errado na situação toda. Principalmente, quando se utiliza de ferramental indutivo.

Jones era um jovem de 25 anos, bem apessoado, surfista e extremamente carismático. Era uma figura enérgica e queria que seus alunos enxergassem as diferentes perspectivas sobre  um mesmo assunto.  Ele queria, principalmente, que eles aprendessem a pensar por si mesmos.

Ao contrário do que foi propagado como verdade por décadas, a “Terceira Onda” não começou com uma única classe de 30 estudantes. Na verdade, o movimento foi bem maior. Houve,  literalmente,  “três terceiras ondas”. Isto,  porque Jones dava aulas em três turmas e implantou o experimento, ao mesmo tempo, nas três classes. Sendo assim, o movimento inicialmente contava com cerca de 90 estudantes que, no desenrolar da trama, quase triplicaram. 

Ao final do experimento, digamos "bem (mal) sucedido", haviam mais de 200 alunos atraídos e envolvidos naquilo que se chamou de “A Terceira Onda”, quase uma semântica ao famoso “Terceiro Reich” alemão.

Ninguém poderia imaginar a proporção que aquela experiência tomaria no futuro. No início, a Terceira Onda foi encarada como uma brincadeira. Só foi levando um pouco mais a sério, porque as notas dos alunos dependiam da participação nesta atividade. O professor Jones era o líder ideal para a função, além de extremamente inteligente, incentivador e inovador,   era também, o professor mais popular da escola e os alunos confiavam muito nele. 

Jones falou ao seus alunos sobre a disciplina (uma das características que marcaram o período da Alemanha nazista) e como esta pode ser benéfica para a comunidade como um todo. Para pôr a teoria em prática, ensinou uma nova postura para os estudantes e trabalhou intensamente na ideia da disciplina. Apontava cada erro detectado, seja no andar, na postura ou na forma de se comunicar com os outros. A cada fase do processo, os exercícios eram mais profundos e impressos com maior poder de indução na mente de cada participante. Estimulou, insistentemente, o silêncio, a capacidade de ouvir e absorver informações e, sempre, lembrava os alunos, em todas as fases da “imersão”,  a beleza da obediência.

Em pouco tempo, Jones percebeu o quão manipuláveis eram seus alunos e,  o quanto estavam seduzidos pelas ideias discutidas e executadas até ali. Pareciam desejosos da uniformidade que a disciplina podia oferecer. Em uma das ações, Jones decidiu que a partir dali todos deveriam chamá-lo de "Senhor Jones", para responder ou fazer qualquer pergunta. No início, sofreram um choque, mas que passou rapidamente e todos, sem exceção, seguiram as novas orientações.

Ao mesmo tempo que os alunos treinavam as técnicas apresentadas exaustivamente, até atingir um modelo polido de pontualidade e respeito. Jones observava a mudança em seus comportamentos.

O ambiente da classe havia se transformado totalmente. Agora, os alunos perguntavam (e respondiam) muito mais. Eram mais participativos e interessados. As aulas rendiam mais, porque a qualidade das discussões aumentara consideravelmente. O grupo começou a ser reconhecido pela qualidade de seus conhecimentos. A relação entre os colegas melhoraram e todos começaram a se sentir acolhidos pelo grupo. Alguns mais tímidos e que nunca haviam falado, começaram a ter coragem e treinavam exposições em público por conta própria.  Realmente estava ocorrendo um processo misterioso com aquela turma. O professor estava confuso e perplexo ao mesmo tempo. Com os resultados obtidos, ele se perguntava  como que,  sob um ambiente autoritário e de rígida disciplina, os alunos podiam dar o melhor de si mesmos?

A aprendizagem do grupo acelerou vertiginosamente e Jones percebeu que os alunos se adaptavam muito bem e cada vez mais rápido, parecendo gostarem , cada vez mais,  das novas regras. Estavam definitivamente empolgados com o experimento.

Jones palestrou sobre a comunidade e a força que podiam ter através dela. Os alunos passaram a se sentir pertencentes à mesma raiz. Nascia assim, um estranhíssimo sentimento de nacionalismo, como se todos pertencessem à mesma pátria ou a mesma família. A força da comunidade ensinava que juntos eles eram mais fortes, que podiam ter um propósito em comum. Jones estava embasbacado com a forma que os alunos reagiam a autoridade dele e se perguntava,  porque eles estavam tão submissos.

Estava em dúvida entre parar ou continuar o experimento, pois não sabia até onde aquilo poderia chegar. . Como continuidade ao processo, o professor Jones criou uma saudação para os alunos da classe, que chamou de 'terceira onda' - porque a mão parecia uma onda para cima de novo. A ideia de 'terceira' veio da tradição da praia, em que as ondas viajam nas correntes, e a terceira onda, além de ser a última, é a maior de cada série. Logo, ele observou que todos faziam a saudação; passeava pelos corredores da escola e via os alunos fazendo a saudação; na biblioteca, na academia, nos jardins, nas lanchonetes, em quase todos os lugares e todos ao mesmo tempo.

Não demorou para que a experiência chamasse atenção dos outros. Vários alunos foram perguntar ao professor se podiam participar. No terceiro dia,  o professor decidiu emitir cartões de adesão a todos que queriam continuar no experimento. Vários alunos haviam trocado de classe para poder participar da Terceira Onda. Em um certo momento, Jones escolheu alguns alunos para vigiar os restantes e fazer um relatório sobre todos aqueles que não obedeciam às regras, numa clara referência a Gestapo nazista. Jones agora falava sobre a força através da ação e de como a disciplina e a comunidade seriam inúteis sem essa “ação”. Da crença na família e no coletivo, da lealdade e da valorização do trabalho. 
Agora, os alunos empolgados, lhe diziam como estavam se sentindo felizes, completos e, verdadeiramente, realizados. Para seu espanto, percebeu que o rendimento dos alunos continuava aumentando à níveis vertiginosos.

Deveres de casa, antes relegados a segundo plano e sempre mal feitos, agora eram perfeitos e com apresentações impecáveis.

Se aproveitando da situação, Jones incumbiu cada aluno de uma tarefa diferente, em prol da Terceira Onda. A essa altura do campeonato, o dito "experimento" já estava totalmente fora de controle, passara a contagiar a escola inteira e de forma positiva. Jones notou que para alguns alunos, principalmente os mais frágeis e volúveis, a Terceira Onda se tornara a sua razão de viver. Se dedicavam completamente àquilo, de corpo e alma. Os solitários e introspectivos passaram justamente a ser os mais devotados e apaixonados.

Jones agora, por iniciativa dos próprios alunos,  ganhara  um guarda-costas, que o seguia todos os dias, para todos os lugares. Pode parecer esquisito, e era, mas Jones deixou a experiencia continuar livre, tentando torna-la o mais parecido  possível com o ambiente da Alemanha nazista.

O professor Jones já havia sido elevado a posição do próprio Führer na experiência.

Bom, o resto deixo para vocês pesquisarem, lerem, analisarem e tirarem suas próprias conclusões...

Fui!

....

Voltei!!

https://pt.wikipedia.org/wiki/Terceira_Onda

Cronologia

Primeiro dia
Jones relata que começou o primeiro dia do experimento com coisas simples como postura correta na cadeira e questionamento intensivo dos alunos. Depois ele focou em aplicar disciplina rígida na sala de aula, se portando como uma figura autoritária e melhorando dramaticamente a eficiência da turma.

A sessão do primeiro dia foi encerrada com apenas algumas regras, com o objetivo de ser um experimento de apenas um dia. Alunos tinham que ficar sentados com atenção antes do segundo sino, tinham que levantar para perguntar ou responder perguntas e tinham que fazer isso com três palavras ou menos, e deveriam preceder cada fala com "Sr. Jones".

Segundo dia
No segundo dia, ele conseguiu unir sua turma de história em um grupo com um senso extremo de disciplina e comunidade. Jones baseou o nome do seu movimento, "A Terceira Onda", no suposto fato de que a terceira em uma série de ondas é a mais forte, uma versão equivocada de uma tradição atual da navegação de que toda nona onda é a maior. Jones inventou uma saudação que lembrava a saudação nazista e ordenou que os membros da turma saudassem uns aos outros mesmo fora da sala. Todos obedeceram esta ordem.

Terceiro dia
O experimento tomou vida própria, com estudantes de toda a escola aderindo: no terceiro dia, a turma aumentou dos 30 estudantes iniciais para 43 alunos. Todos os alunos apresentaram melhora drástica nas habilidades acadêmicas e grande motivação. Todos os estudantes ganhavam um cartão de membro, e cada um deles recebia uma função especial, como fazer um símbolo da Terceira Onda, impedir que não membros entrem na aula, entre outras. Jones instruiu os alunos em como iniciar novos membros, e no fim do dia o movimento tinha mais de 200 participantes. Jones ficou surpreso quando alguns alunos começaram a informá-lo quando outros membros do movimento não obedeciam as regras.

Quarto dia
Na quinta-feira, o quarto dia do experimento, Jones decidiu terminar o movimento porque ele estava saindo do seu controle. Os alunos se envolveram cada vez mais no projeto e sua disciplina e lealdade ao projeto era impressionante. Ele anunciou aos participantes que este movimento era parte de um movimento nacional e que no próximo dia um candidato à presidência da Terceira Onda seria anunciado publicamente. Jones convocou os alunos para uma assembleia na sexta-feira para testemunhar o anúncio.

Quinto e último dia
Ao invés de um discurso televisionado do seu líder, os estudantes viram um canal fora do ar. Depois de alguns minutos de espera, Jones anunciou que eles tinham sido parte de um experimento sobre fascismo e que todos criaram voluntariamente um senso de superioridade como os cidadãos alemães tinham no período da Alemanha nazista. Depois ele exibiu um filme sobre o regime nazista para concluir o experimento.

Psicologia
A psicologia envolvida foi estudada extensivamente em termos da organização juvenil em gangues e da pressão dos pares, da qual este experimento foi uma variação.

Na cultura popular
Os eventos do experimento foram adaptados em um programa de TV em 1981, The Wave, e um romance de Todd Strasser.

O filme alemão A Onda, de 2008, transferiu o experimento para uma sala de aula da Alemanha atual e foi bem-recebido pela crítica.

Em 2010, Jones encenou um musical chamado A Onda, escrito com alguns dos alunos da turma.

Em 10 de outubro de 2010, um documentário, Lesson Plan, recontando a história da Terceira Onda através de entrevistas com os alunos e professor originais, estreou no Mill Valley Film Festival. O filme foi produzido por Philip Neel, um dos antigos alunos de Jones.




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