domingo, 22 de março de 2009

Dando a Mão à Palmatória





Hoje, 22 de março de 2009, 4h25.

Acabei de assistir na HBO – Jesus, A História do Nascimento (Título em inglês – The Nativity Story).

Um filme focado no período de dois anos em que Maria e José partiram de Nazaré, fazendo sua jornada rumo a Belém para seguirem a determinação do Censo Romano e, cuja viagem, resultou no nascimento de Jesus. 

Conta também, o extermínio praticado por Herodes I (O grande), contras as crianças nascidas em Belém com menos de 2 anos, inclusive, a longa travessia feita por Baltazar, Melchior e Gaspar, intitulados Rei da Arábia, Reis da Pérsia e Rei da Índia e popularmente conhecidos como os Três Reis Magos, que previram o acontecimento e seguiram a estrela guia, resultado de uma conjunção de Vênus, Júpiter e uma estrela desconhecida. Segundo estudos, eram chamados de magos, portanto, não eram reis e, muito menos pode se dizer que eram três. Provavelmente eram sacerdotes ou conselheiros da religião zoroástrica persa. 

O historiador Flávio Josefo (nasceu Yosef ben Matityahu – José filho de Matias), descendente de uma importante linhagem de sacerdotes e reis, após tornar-se cidadão romano, ficou conhecido como Titus Flavius Josephus, que presenciou a destruição de Jerusalém em 70 d.C. pelo Imperador Vespasiano, Herodes I morreu em 4 a.C., deixando em seu lugar os filhos Herodes Arquelau, Herodes Antipas e Filipe. Segundo os evangelhos, Herodes é acusado da “Matança dos Inocentes”, porém, Josefo, não confirma esse episódio, mesmo descrevendo, minuciosamente, inúmeros crimes cometidos pelo Rei. 


Há várias controvérsias com referência aos relatos da Bíblia. Quirino, governador romano (da Síria) que ordenara o censo, somente governou a região a partir de 6 d.C., e segundo alguns historiadores, Jesus teria nesta época entre dez e doze anos. Quirino não foi contemporâneo de Herodes I e, o historiador Robin Lane Fox, em seus trabalhos, informa que não é verdade que os chefes de família tinham que se apresentar onde nasceram. Eles eram recenseados no lugar onde viviam, tinham propriedades ou ganhavam o seu dinheiro e, os romanos não faziam recenseamento em regiões de governos autônomos, como era o caso da Galileia. 

Nestes casos, os habitantes não pagavam seus impostos diretamente a Roma e sim, ao governo regional, que por sua vez, pagavam os tributos à Roma. Também encontrei relatos que estas estórias, de Censo, Belém, nascimento de Jesus, foi uma forma de autenticar a profecia do velho testamento, que dizia que o “salvador” descenderia da casa de Davi, que era originário de Belém. 

Acredita-se que a cidade de Nazaré, não existia na época de Jesus. O Talmude faz referência a 63 cidades da Galileia, porém, Nazaré não é mencionada uma única vez e, de acordo com Flávio Josefo, havia uma seita chamada “dos nazarenos”, que eram uma ramificação dos Essênios, e que viviam às margens do Rio Jordão, cerca de cento e cinquenta anos antes do nascimento de Jesus. É possível que os Essênios tenham formados as primeiras comunidades cristãs, sendo citadas no Talmude como “nozaris”. 

João Batista também era Nazareno, e sua missão era batizar o povo para salvar seus espíritos e curar seus corpos físicos. Bem diferente das crenças judaicas daquela época. As controvérsias são muitas, e podem ser pesquisadas nos textos de Flávio Josefo, Filon de Alexandria e, principalmente, nos pergaminhos encontrados no Qunram e Massada, perto do Mar Morto. 

Mas há um inegável elo perdido entre cristianismo e judaísmo Essênio. 

Acredita-se também, que os nazarenos, como ramificação dos Essênios, conheciam os ensinamentos provenientes de Buda e dos Vedas. Podemos encontrar a palavra Nazaré em dialetos indianos. Também, se fizermos um paralelo entre as palavras, ditas, de Jesus e as filosofias Hindu e Budista, teremos grande similaridade entre elas. 

Desde meus estudos escolares sobre história antiga, sobre o Império Romano, a Idade Média e a dominação do Império Cristão, fui contra a instituição igreja, por não concordar com seus atos e suas manobras de poder, mas devo concordar que, se não fosse por eles, talvez esses conhecimentos não tivessem chegados até mim. 

Obscuros ou não, existe muita coisa boa nisso tudo. Como existem coisas boas em qualquer outra filosofia que lhe permita vivenciar elementos mais edificantes. Muitos ensinamentos que hoje trago comigo, provavelmente, se não fosse pela constituição e força da “Igreja”, eu não teria tido acesso e não estaria em condições de analisá-los, avaliá-los, refutá-los ou aceitá-los. Muito da minha formação moral e ética, não estaria embasada nesses ensinamentos e, por isso, talvez tenha que “dar a mão a palmatória”. 

Há desígnios que não são concebíveis. 

Há razões que não podem ser explicadas e se, mesmo assim, pudessem ser explicadas, provavelmente não compreenderíamos. Parafraseando Shakespeare: “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”. 

Quem sabe isso tudo já não estava previsto. 

Quem sabe não foi esse mesmo, o papel que a “Igreja” teria que fazer. 

Quem sabe, se ela fosse diferente do que foi, não teria sobrevivido até nossos dias e assim, não teríamos toda essa gama de conhecimentos que temos hoje. 

É certo que, muito desses conhecimentos, foram manipulados, inventados e claramente, tendenciosos, porém, talvez se toda a verdade fosse revelada, perderíamos o prazer de conhecer essa verdade obscura e, principalmente, não teríamos os mistérios que rondam essas verdades, sobrevividos mais de dois mil anos. 

Talvez nunca venhamos a saber, se todas essas “estórias” que ouvimos desde criança e que alicerçam o cristianismo foram, ou são, realmente verídicas. Sabemos que são controversas. Sabemos que as primeiras narrativas foram feitas de memória e possuem mais de cinquenta anos do ocorrido. 

Sabemos que existem fantasias e retóricas, e porque não, grande persuasão envolvendo esse assunto, mas não sabemos se tudo isso deveria ser assim mesmo. 

A única coisa que me resta agora, depois de usar meu raciocínio e meus conhecimentos é não brigar mais com a existência ou não da “Igreja”, mas sim, aproveitar o que ela, a pesar de tudo, trouxe de bom.

Não vou deixar de avaliar, analisar, refutar ou aceitar tudo que eu conseguir absorver nesses anos todos, porém, neste momento, todo o histórico dessa instituição milenar e de seus componentes (que eu sempre desprezei), deixou de ser um problema para mim. Tenho, agora, ciência da sua importância e, se eu não posso me considerar senhor de minhas verdades, também não posso exigir isso dos outros.

Assim sendo, mais um capítulo da minha vida que se vai! 

Vou continuar refutando os textos bíblicos, ou qualquer outro texto que, como já disse anteriormente, venha a impedir o desenvolvimento mental e espiritual que todos temos direito, mas agora, não mais refutando sua essência primordial. 

Não sei se essa instituição durará para sempre, mas o seu papel, a trancos e barrancos, foi realizado. 

Para quem têm olhos, que veja e ouvidos, que ouça!

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